segunda-feira, 15 de abril de 2013

25 anos depois...


Mais de 25 anos após o acidente, apenas parcela muito pequena das vitimas foi oficialmente reconhecida pelo governo, recebendo uma assistência paliativa e inadequada, segundo Odesson Alves Ferreira, vítima do acidente e presidente da Associação das Vítimas do Césio 137. Isso porque só são reconhecidas como vítimas as pessoas que tiveram contato direto com o material, seus descendentes em 1º e 2º graus e servidores que atuaram na remoção e vigilância do lixo radiativo, o que equivale a pouco mais de 600 pessoas não são reconhecidas. 

Vale lembrar que foi somente em 1999 que 186 dos 200 Policiais Militares que trabalharam no isolamento da área foram reconhecidos pelo Estado com vítimas do Césio 137. Mas seus familiares não. João Batista, um dos PMs nessa situação, tem dois filhos. Ambos têm problema de saúde. 

Ferreira afirma que não se põe na conta das vítimas as pessoas das redondezas dos quatro ferros-velhos por onde os resíduos passaram durante seu percurso, o que dá um total de cerca de 4 quilômetros quadrados de área diretamente afetada pelo Césio – muito mais do que os 300 metros reconhecidos oficialmente. Tampouco são contabilizadas as diversas vítimas indiretas, desde os familiares e pessoas próximas às vítimas diretas, até a população em geral, que entrou em contato com a substância em encontros ocasionais em ônibus, mercados, trabalho etc. 


Os casos são os mais escabrosos: o homem que trabalhava separando o metal e morreu sem o saco escrotal, que caiu por conta da doença; a enfermeira que trabalhou uma semana com os contaminados e morreu com mais de 20 tumores; a menina Leide, primeira vítima fatal, que ingeriu o material enquanto brincava com ele durante a refeição; o pai de família que só foi considerado vítima oficial do Césio uma semana antes da sua morte, de modo que não chegou a receber a pensão a que teria direito – nem tampouco sua família, já que a pensão é vitalícia (ou seja, não tem sucessores). 

Isso sem falar nos diversos processos discriminatórios que essas pessoas sofreram na sociedade, como estabelecimentos comerciais de vítimas que faliram por falta de fregueses, e pais que tiraram filhos de escolas para não conviver com crianças que tiveram contato com o Césio. 

Como se vê, não foi só a saúde física das vítimas que foi afetada pelo Césio, mas também a sua cidadania, sua moral. “As pessoas perderam, ao mesmo tempo, sua identidade geográfica (casas inteiras demolidas e aterradas), pessoal e física. E não receberam nenhum apoio psicológico do Estado.


Uma das maiores inconformidades dos envolvidos no acidente, no entanto, é com a falta de interesse do governo em apurar a sua real abrangência, até hoje. Ferreira conta que, diante dessa inércia, Sueli Lina da Silva, uma moradora da região, tomou a iniciativa de fazer uma pesquisa para descobrir os efeitos do acidente entre os moradores da região. Por essa pesquisa, até agora, em 114 famílias foram encontrados 56 casos de câncer, o que por si só mostra que o estrago foi muito maior do que as estatísticas oficiais indicam. 

É necessário que o governo dê mais atenção a esse caso, especialmente na área da ciência.  As vitimas precisam de assistência, do reconhecimento e não podem ser esquecidos.


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